Jornal do Voto-E

Recorte traduzido do     New York Times
Nova York, 13 de junho de 2004

EUA

EDITORIAL

Apostando no Voto

título original : "Gambling on Voting"
traduzido por Roger Chadel

[veja o texto original em inglês]


Se os responsáveis pelas eleições querem convencer que o voto eletrônico é confiável, eles deveriam torná-lo no mínimo tão seguro quanto os caça-níqueis. Para perceber como é fraco o controle dos sistemas de votação, é interessante verificar como o Estado de Nevada sistematicamente garante que as máquinas eletrônicas de jogo em Las Vegas funcionam honesta e confiavelmente. O voto eletrônico, em comparação, peca por procedimentos negligentes, riscos de segurança e conflitos de interesse.
Numa visita esta semana ao laboratório do Conselho de Controle do Jogo de Nevada, num escritório do Estado num edifício em Las Vegas, nós encontramos mecanismos de teste e conformidade que vão muito além do que é exigido no voto eletrônico. Entre as maneiras como os jogadores têm mais proteção do que os eleitores 1. O Estado tem acesso a todo o software de jogo. O Conselho de Controle do Jogo tem cópias em arquivo de cada peça programável dos dispositivos de jogo usados atualmente, e um backup de vários anos. É ilegal um cassino usar software que não está em arquivo. Os fabricantes de máquinas de votar, entretanto, dizem que seu software é segredo comercial e se recusam em compartilhá-lo com os Estados que compram suas máquinas.

2. O software das máquinas de jogo é constantemente checado individualmente. Inspetores do Conselho aparecem nos cassinos sem avisar com dispositivos que lhes permitem comparar o chip de computador numa máquina de jogo com o que eles têm em arquivo. Se houver alguma discrepância, a máquina é desligada e investigada. Este tipo de checagem não é feito com máquinas de votar. Uma modificação clandestina do software numa máquina de votar tem muito pouca probabilidade de ser detectada.

3. Há padrões meticulosos, constantemente atualizados, para as máquinas de jogar. Quando nós estávamos no laboratório do Conselho de Controle do Jogo, um homem estava dando tiro numa máquina de jogo. A máquina deve trabalhar mesmo quando exposta a choques de 20.000 volts, uma das regras impostas para cobrir tudo o que possa dar errado. Nevada adotou novos padrões em maio de 2003, mas para se manter em dia com uma tecnologia que evolui tão rapidamente, novos padrões estão sendo incluídos este mês.
Os padrões das máquinas de votar estão desatualizados ou inadequados. Máquinas ainda são testadas com os padrões de 2002 que têm brechas de segurança. Entreatanto as autoridades gastam centenas de milhões de dólares para comprá-las.

4. Os fabricantes são intensivamente examinados antes que lhes seja concedida a licença de vender hardware ou software de jogo. Uma empresa que quiser fabricar máquinas de jogo deve se submeter a uma checagem com seis meses ou mais de antecedência, semelhante à que é feita com operadores de cassinos. Ela deve registrar seus funcionários no Conselho de Controle do Jogo que irá verificar seu histórico e seus antecedentes criminais.
Quando se trata de fabricantes de máquinas de votar, a única coisa que uma empresa precisa é convencer as autoridades a comprar seu equipamento. Não há meios de os eleitores saberem se os programas nestas máquinas foram codificados por programadores condenados por fraude ou ligados a partidos políticos ou candidatos.

5. O laboratório que certifica os equipamentos de jogo tem uma relação dura com os fabricantes e está aberto a consultas do público. O Conselho de Controle do Jogo de Nevada é uma agência estatal cujos empregados são pagos pelos contribuintes. As taxas cobradas pelo laboratório vão para um fundo geral do Estado. Eles incentivam pessoas que tenham dúvidas a procurá-los ou mandar e-mail.
Os laboratórios federais que certificam equipamento de votação são empresas com fins lucrativos. Elas são escolhidas e pagas pelos fabricantes de máquinas de votar, num claro conflito de interesses. Os eleitores e seus representantes eleitos não têm como saber como os testes são feitos, ou que os fabricantes não estão sendo pressionados para aprovar equipamentos fraudáveis. O Wyle Laboratories, um dos maiores testadores de máquinas de votar, não responde perguntas sobre seu trabalho.

6. Quando há alguma dúvida sobre uma máquina, o jogador tem o direito de pedir uma investigação imediata. Quando um jogador desconfia que uma máquina está roubando, o cassino deve chamar o Conselho de Controle do Jogo que tem investigadores disponíveis 24 horas por dia. Os investigadores podem abrir as máquinas para inspecionar seus componentes internos e os registros dos últimos resultados de jogos. Se o eleitor achar que a máquina de votar está manipulando seu voto, seu único recurso é chamar um conselho eleitoral num número que estará provavelmente ocupado, para registrar uma queixa que poderá ou não ser investigada.

As autoridades eleitorais dizem que seus sistemas eletrônicos de votação são os melhores. Mas a verdade é que os jogadores têm o que há de melhor na tecnologia, enquanto os eleitores usam sistemas baratos e não confiáveis. Ainda há muitas perguntas sem respostas sobre o voto eletrônico, mas uma coisa é certa um voto para presidente deveria ser no mínimo tão seguro quanto uma aposta de 25 centavos em Las Vegas.


Mais sobre o Voto-E nos Estados americanos
Voltar ao início do texto
Voltar ao Jornal do Voto Eletronico