Jornal do Voto-E

Recorte da     Folha de São Paulo
São Paulo, 13 de junho de 2004

VENEZUELA

Chávez vai tentar fraude eletrônica, diz oposição

Urnas informatizadas para o plebiscito foram compradas pelo presidente

DO "NEW YORK TIMES"

[ ver texto original da Folha ]     [ ver texto original do New York Times ]

A confiabilidade das urnas eletrônicas está causando discussão não somente nos Estados Unidos, mas também na Venezuela. Adversários e diplomatas estrangeiros questionam a decisão de o plebiscito revogatório do mandato do presidente Hugo Chávez, programado para o próximo dia 15 de agosto, ser realizado por meio de voto eletrônico.

Para a oposição, o governo venezuelano poderá usar o equipamento para manipular os votos.

O novo sistema "touch-screen" -no qual o eleitor simplesmente aperta um quadradinho na tela- foi comprado de empresas na Flórida (EUA) pelo próprio governo de Hugo Chávez, ainda neste ano.

Nenhuma das companhias (Smartmatic de Boca Raton, que produz as máquinas, e Bizta, responsável pelo software) tem experiência em eleições. Em maio, o jornal "Miami Herald" declarou que o governo Chávez havia feito investimentos na Bizta.

Funcionários chavistas disseram que não houve impropriedade e subestimaram o papel do governo nas operações da companhia. Jorge Rodríguez, membro do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e considerado chavista, acusou os críticos de terem "interesses ocultos".

Desconfiança

Para agravar a desconfiança dos opositores, o CNE cogita não permitir a presença de observadores internacionais para fazer uma auditoria durante a consulta. O CNE disse que, como um órgão autônomo, acompanhará a contagem de votos e garantirá que não haverá fraude. Mas líderes da oposição dizem que três dos cinco integrantes do CNE são partidários do presidente, opinião compartilhada por diplomatas em Caracas.

Segundo os chavistas, a OEA (Organização dos Estados Americanos) e o Centro Carter, baseado nos EUA, são contra o atual governo da Venezuela. Ambos os órgãos negam as acusações.

"Qual a razão obscura para não fazer isso [permitir a presença de observadores internacionais]? É estranho e não muito transparente", declarou o governador Enrique Mendoza, um dos principais líderes da oposição.

O sistema "touch-screen", que está sendo utilizado em diversos Estados americanos, tem apresentado pequenos defeitos -durante as primárias das eleições americanas, por exemplo, ocorreram vários problemas. Especialistas em segurança que analisaram o sistema encontraram falhas nos mecanismos de proteção contra hackers. Isso levou os críticos a argumentarem que o novo sistema é menos seguro que as urnas mecânicas usadas anteriormente.

Especialistas afirmam que, sem vigilância independente, esse tipo de sistema pode ser facilmente fraudado. "Um computador pode ser programado para produzir o resultado que alguém quiser", disse Aviel Rubin, professor de ciência da computação da Universidade Johns Hopkins (EUA).

"Qualquer um que estivesse preocupado com um resultado justo iria encorajar uma verificação externa", disse Rubin, que no ano passado liderou uma equipe que realizou uma análise dos softwares produzidos por uma das indústrias líderes nos EUA.

A realização de uma auditoria manual dos comprovantes emitidos pelas urnas a cada voto pode ser uma solução para os possíveis problemas, segundo especialistas.

A coalizão opositora inicialmente pressionou para haver uma contagem manual, porém agora diz que basta uma auditoria em uma amostra de votos.


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