Jornal do Voto-E

Recorte do     Correio Brasiliense
Brasilia, 02 de abril de 2001

Voto, vontade e corrupção
Rubem Azevedo Lima
[Página original]


Os técnicos em computação da Unicamp, após examinarem o equipamento eletrônico de votação secreta do Senado, concluíram que tal sistema está sujeito a violações e os seus resultados podem ser manipulados. Portanto, as maravilhas tecnológicas, com as quais se fizeram as escolhas de nomes para os cargos mais importantes do país e se aprovaram os textos de todas as leis brasileiras nas últimas três décadas, são menos confiáveis do que o voto nas velhas cédulas de papel.

O laudo técnico de Campinas põe, pois, em xeque não só o Senado, mas a própria estrutura do poder nacional. Verifica-se, hoje, que o mito da tecnologia perfeita, a começar pela computação de dados, depende fundamentalmente da honestidade humana e de medidas que a protejam.

Sabia-se disso desde o caso Proconsult, quando se programara a derrota do então candidato Leonel Brizola, na votação eletrônica do primeiro pleito de governador por ele disputado no Rio de Janeiro em 1982. Aliás, antes da eleição municipal de 2000, em que todos os 103 milhões de eleitores do país usariam pela primeira vez o voto eletrônico, um dos temas quentes do Congresso foi a hipótese de fraude sob tal sistema. A maior autoridade no assunto, o engenheiro eletrônico Amilcar Brunazo Filho, demonstrou que a fraude, no caso, era mais do que possível.

Ele propôs a adoção de um mecanismo simples para tornar o sufrágio eletrônico menos vulnerável uma impressora acoplada à máquina de votar que reproduziria, para o eleitor, cópia de seu voto, a ser por ele depositada numa urna tradicional de lona. No caso de dúvidas posteriores, a votação eletrônica seria conferida com a das cédulas impressas, reduzindo quase a zero a hipótese de fraude.

Dados os sinais de corrupção em tantos setores da vida nacional, inclusive na elaboração de pesquisas eleitorais ou consultas de opinião pública, a democracia no país corre o risco de tornar-se em 2002, por falta de combatentes, um sulfuroso festival de abstenções e trapaças.

Respeitar a vontade eleitoral pode ser o começo de recuperação da confiança do povo na democracia e em poderes políticos decentes, aptos a exercerem o direito de enfrentar a corrupção, sob tempestades de escândalos, e ainda lutarem por justiça social. Como diz o senador Carlos Wilson, não é possível que a honra do Brasil tenha também afundado para sempre, com a Plataforma-36, na bacia de Campos.


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